1. EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE O AUMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS PÓS-PANDEMIA

Estudos científicos realizados durante e após a pandemia de COVID-19 confirmam que a saúde mental foi severamente impactada. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou dados alarmantes sobre o aumento da prevalência de transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão, durante o primeiro ano da pandemia. O aumento global foi estimado em 25%, refletindo os efeitos psicológicos do isolamento social, perda de entes queridos e o medo da doença.

Além disso, estudos publicados em revistas científicas, como a The Lancet Psychiatry, destacam que, em comparação com os anos anteriores à pandemia, a prevalência de transtornos mentais aumentou significativamente. Um estudo realizado por Rossi et al. (2020), por exemplo, observou um aumento considerável nos índices de ansiedade, depressão e estresse em diferentes países. Esse aumento não se limitou apenas ao Brasil, mas foi uma tendência global.

2. O IMPACTO ECONÔMICO E SOCIAL DA SAÚDE MENTAL

A crise de saúde mental pós-pandemia não se limita aos sintomas individuais, mas também impacta diretamente a economia e as relações sociais. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou em seus relatórios que a saúde mental dos trabalhadores foi uma das grandes vítimas da pandemia, com 12 bilhões de dias de trabalho perdidos anualmente devido à depressão e ansiedade, gerando um custo de quase um trilhão de dólares para a economia global. Esse dado revela como o adoecimento mental se reflete não apenas em termos individuais, mas também na produtividade social e econômica.

3. O IMPACTO NO PAÍS

No Brasil, os dados também reforçam essa tendência. O Datasus, sistema de informações do Ministério da Saúde, aponta que a quantidade de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, saltando de 7 mil para 14 mil. Além disso, a pesquisa “Saúde Mental dos Educadores 2022”, que entrevistou mais de 5.000 professores, revelou que 20% dos profissionais consideram sua saúde mental ruim ou muito ruim, um número que aumentou após o início da pandemia.

Outro dado importante é que 86% dos profissionais de saúde relataram sofrer com a Síndrome de Burnout, enquanto 81% enfrentam altos níveis de estresse. Esses dados, obtidos por meio de estudos como o Relatório da Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental (Conasem/Cofen), comprovam que os profissionais de saúde mental, que estavam na linha de frente do combate à pandemia, também sentiram os efeitos diretos desse aumento de demanda e sofrimento psicológico.

4. FALTA DE ACESSO AO TRATAMENTO

A interrupção dos serviços de saúde mental durante a pandemia também é um fator relevante. Muitos serviços de atenção psicossocial, como a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), enfrentaram cortes e interrupções. Esse cenário agravou ainda mais a situação, já que muitos indivíduos ficaram sem o apoio necessário durante o período mais crítico.

De acordo com especialistas, como Dorisdaia Humerez, coordenadora da Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Mental, a defasagem na oferta de serviços de saúde mental, aliada ao aumento das necessidades, gerou uma “crise silenciosa” que se reflete até hoje na procura por tratamento psicológico e psiquiátrico.

5. O QUE OUTRAS PESQUISAS DIZEM?

Outro dado relevante vem da pesquisa realizada pela Fiocruz e pela Universidade Federal Fluminense, que indicou que 45% dos estudantes diagnosticados com ansiedade generalizada e 17% com depressão no primeiro ano da pandemia sentiram uma piora substancial após o pico de casos de Covid-19. A perda de motivação e as dificuldades de concentração também se destacaram entre os sintomas mais comuns.

Conclusão

Portanto, os dados científicos e pesquisas disponíveis apontam fortemente para a conclusão de que sim, a procura por tratamento de saúde mental está diretamente relacionada aos efeitos da pandemia de Covid-19. O aumento de transtornos como ansiedade e depressão, agravado pelas condições de isolamento, perdas e incertezas, gerou um impacto significativo na saúde mental da população, com reflexos econômicos e sociais evidentes.

Esse aumento da demanda por serviços de saúde mental pós-pandemia não é uma tendência passageira, mas sim uma crise que requer atenção contínua, principalmente em relação ao acesso a tratamentos adequados e ao apoio psicossocial.

As interrupções nos serviços de saúde mental durante a pandemia apenas agravaram o quadro, e as consequências dessas dificuldades ainda são sentidas na atualidade.

Fonte:

COFEN – Conselho Federal de Enfermagem. Brasil enfrenta uma segunda pandemia, agora na saúde mental. Conselho Federal de Enfermagem, 2023. Disponível em: https://www.cofen.gov.br/brasil-enfrenta-uma-segunda-pandemia-agora-na-saude-mental/. Acesso em: 4 mar. 2025.

SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Saúde mental pós-pandemia. SBPC Notícias, 19 maio 2023. Disponível em: https://portal.sbpcnet.org.br/noticias/saude-mental-pos-pandemia/. Acesso em: 4 mar. 2025.

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